(BR Press) - A jornalista Janete Leão Ferraz foi modelo e manequim nos anos 70 e 80. Com 1,80m e 50kg, bonita, enquadrava-se no que seria uma aparência ideal. Mas a vida caminha, coisas acontecem, e em determinado momento, viu-se numa luta cruel contra a balança. Fez diversas dietas, internou-se em spas, sofreu com o efeito-sanfona. Perdeu e recuperou muitos e muitos quilos. Teve depressão. A obesidade foi se anunciando e acabou por instalar-se em 135kg, sem piedade.
Depois de muito esforço e de muito pesquisar, Janete optou por um tipo de cirurgia bariátrica não tão difundido. Isso foi há 8 anos. Hoje, bem mais magra e saudável, retoma sua experiência com o peso no livro De Top Model a Ex-obesa: Uma Relação Íntima com a Balança - Um Relato Não Médico sobre a Obesidade no Brasil, que será lançado no dia 06/11, às 18h30, na Livraria da Vila do Shopping Higienópolis, em São Paulo.
Janete descreve seu livro como confessional, uma história que precisava ser dita, colocada para fora. Fez isso por ela, como pessoa, para fechar um ciclo, revisitar sua vida, sob a lente da questão com o peso, num tempo de ressignificação. Fez isso também para contribuir com todos os que partilham uma “relação íntima com a balança”. Há tanta gente vivendo e sofrendo com a obesidade, que ela sentiu que deveria fazer algo a respeito. Dar sua contribuição.
Ao contar-nos sua história, Janete o faz juntamente com muito estudo e pesquisa. Buscando encontrar-se e encontrar uma saída viável para seu problema, mergulhou a fundo no mundo da fisiologia dos hormônios, das dietas, das soluções cirúrgicas. Dessa forma, a troca com o leitor fica ainda mais rica.
Amor próprio
Eu diria que o livro de Janete traz a história de uma jornada. A autora conta, com grande honestidade, a história de muita gente: insatisfação com a própria imagem, insegurança, problemas com o peso, dietas, depressão... imensa vontade de se gostar e de se sentir bem consigo mesmo. Não é o que buscamos todos nós? Amor próprio?
O peso e a conduta alimentar são características determinantes de quem somos, possuem maior influência em nossos valores e atitudes do que possamos facilmente imaginar. É quando as coisas não vão bem que percebemos quão próxima é tal relação. De repente, compulsão. Perda de tato bucal (nome que Janete dá à perda total do reconhecimento sensível do que se põe na boca). Perda da noção dos limites do próprio corpo. “Zanzar pela vida, feito autômato”. E muito mais desconhecimentos de si.
Numa época na qual é comum falar de obesidade, de tratamentos, de dietas, acredito que um autorrelato de quem viveu na própria pele suas agruras ganha imensamente em importância. Não se trata de uma visão médica, mas da visão de alguém que dá voz e concretude a uma experiência, que nos proporciona a chance de viajar com ela, de encontrar semelhanças e diferenças com nossos caminhos.
Não traz o geral, mas o particular, rico em sentimentos. Falar de obesidade deveria ser mesmo assim, incluindo todas as suas contradições, dúvidas, perguntas sem respostas.
Doença e luta
Obesidade é uma doença, sim. Mas é também uma luta com quem se é, com o juízo que de nós fazemos, com a imagem ideal da sociedade. Limita fisicamente, mas também simbolicamente.
Talvez o livro de Janete mexa com os ânimos. O tema sempre é polêmico ou, no mínimo, causa muito desconforto. Falar de magreza e de ser modelo, falar de obesidade e de compulsão, falar da cirurgia bariátrica traz sentimentos à tona nas pessoas, sentimentos nem sempre claros e muito menos simples de se lidar.
O livro de Janete é uma experiência pessoal – dela, nossa. Recomendo.
Livraria da Vila Shop. Higienópolis – Av. Higienópolis, 618 (11) 3660-0230
(*) Lia Ades Gabbay é psicóloga, com especialização em Psicologia do Comportamento Alimentar, Transtornos Alimentares e Obesidade. Fale com ela pelo e-mail \n |
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